Por: Robert K. McIver
Por que existem quatro evangelhos no Novo Testamento? Por certo um seria suficiente. Essa foi, pelo menos, a opinião de Taciano, pai da igreja no segundo século, o qual compôs o Diatessaron, uma tradução dos evangelhos em língua siríaca. Em vez de traduzir os quatro evangelhos, ele compilou uma “harmonia” tomando a versão de cada história importante e inserindo-a numa harmonização dos evangelhos. João Calvino escreveu um comentário sobre cada livro da Bíblia, exceto os evangelhos, para os quais preparou também uma harmonia; então escreveu um comentário a respeito.
Contudo, Taciano e Calvino são exceções. Os quatro evangelhos têm figurado no Novo Testamento desde a primeira vez que alguém perguntou que escritos deveriam ser nele incluídos. As razões por que os primeiros cristãos decidiram conservar os quatro evangelhos no Novo Testamento não são conhecidas. Mas por que o fizeram, temos agora quatro testemunhos ligeiramente diferentes sobre Jesus. Assim como diversas testemunhas são convocadas num tribunal para dar sua perspectiva particular dos fatos, de modo que a verdade possa emergir com maior clareza, assim também os quatro evangelistas fornecem quatro perspectivas de Jesus. Através deles vemos, por assim dizer, Jesus em quatro dimensões. A certa altura eu tinha intitulado meu livro sobre os quatro evangelhos: “Jesus In Four Dimensions”. Os editores decidiram que The Four Faces of Jesus seria um título melhor. Realmente ele expressa a mesma idéia de que cada um dos escritores evangelistas tem um testemunho pessoal de Jesus e de Sua mensagem. O que eles acham ser o mais importante?
Embora a maior parte deste artigo seja dedicada ao exame separado de cada um dos quatro evangelhos para descobrir o que distingue um do outro, não devemos nos esquecer que há uma harmonia básica entre as narrativas de Jesus neles encontradas. Por exemplo, todos concordam acerca de muitos detalhes de Seu ministério. Mateus e Lucas registram que Ele nasceu em Belém e os quatro concordam que Ele cresceu em Nazaré, e que o Seu ministério se concentrava nas pequenas cidades e vilas ao longo do litoral norte do mar da Galiléia. Mais significativamente, os quatro evangelhos partilham a convicção de que a coisa mais importante a se saber sobre Jesus, é a série de acontecimentos relacionados à Sua crucifixão, morte e ressurreição. Todos concordam que o significado da cruz tem a ver com quem Jesus é, e que aquilo que aconteceu com Ele foi o resultado da vontade de Deus e não uma fatalidade cega. Todos os evangelhos destacam o elo que liga a cruz e a Páscoa e que Jesus foi crucificado como o rei dos judeus; fato irônico, porque a cruz realmente inaugurou o reino de Deus. Além disso, todos eles enfatizam que Jesus ressuscitou com um corpo real e que Sua morte e ressurreição proveu o impulso para a atividade missionária dos primeiros (e últimos) cristãos. Esses conceitos e outros mais são partilhados pelos quatro evangelhos. Não obstante, cada um possui uma visão distinta de Jesus.
Os quatro evangelhos preservam quatro perspectivas de Jesus. Fazemos encontrar face a face com um Jesus que não se acomoda facilmente aos compêndios de teólogos cristãos ou aos sermões pregados semanalmente. Esse é o Cristo que assumiu plenamente a natureza humana, mas que ainda era divino. Um Jesus que por Sua vida, morte e ressurreição mudou a história e tornou a salvação acessível a todos os que nEle crêem. Um Jesus que deve, em breve, retornar para destruir o mal e devolver o mundo a Deus. Um Jesus que vem até nós, por vezes numa hora inconveniente, e ordena: “Venha, siga-me”. Um Jesus que nos chama para uma vida de discipulado e serviço. Em poucas palavras, um Jesus que nos desafia com a questão mais profunda e mais importante que temos de enfrentar neste mundo: “Quanto a você... quem diz que Eu Sou?” (Marcos 8:29.)
Robert K. McIver (Ph.D. pela Andrews University) é professor de estudos bíblicos em Avondale College, Cooranbong, Austrália. Entre seus livros acha-se o The Four Faces of Jesus (Boise, Idaho: Pacific Publ. Assn., 2000), que forma a base deste artigo.
Extraído de www.adventist.org/education/dialogue/
Nenhum comentário:
Postar um comentário