28/03/2011

Os cristãos deveriam se preocupar com o meio ambiente?

Em 1967, o historiador científico Lynn White publicou um documento culpando amplamente as raízes judaico-cristãs ocidentais pela crise ecológica.3 Ele viu como causa do problema a doutrina da criação do homem à imagem de Deus, e a divina concessão de domínio terrestre a ele. O artigo de White chamou a atenção dos escritores cristãos de modo assinalado.4 Nesse meio tempo, o cientista atmosférico James Lovelock, estudando a atmosfera de Marte, concluiu que ela não permitia vida. Mas ele também estudou a atmosfera terrestre e deduziu que esta era mantida pela vida que abrigava. O conceito de um sistema de realimentação global levou alguns a propor a controvertida “hipótese de Gaia”, adotada por seguidores do movimento neopagão da Nova Era. Esses, por sua vez, abraçaram o ambientalismo para proteger a “Mãe-Terra”. Em resposta, os cristãos conservadores deram as costas ao cuidado para com a criação, temendo que se constituísse em adoração à Terra. Eis onde estamos hoje.
          Essa história e várias interpretações teológicas (conclusões equivocadas?) estão por trás das numerosas negativas em relação ao cuidado para com a criação cristã. Vamos examinar e analisar sucintamente tais impedimentos.

Impedimentos ao ambientalismo cristão

 1. Subjugação e domínio juntamente com cuidado e manutenção da criação. Muitos cristãos insistem que Deus ordenou a exploração ambiental. O que pensamos de Deus e da criação influencia bastante o modo como vivemos. Considere Gênesis 1:27, 28 e 2:15: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem... E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra... Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.”
 Como deveríamos entender “sujeitar” e “dominar” no contexto de “cultivar e guardar”? Uma vez que Deus considerou boa a criação e a elogiou, instruindo os humanos a cuidar dela e mantê-la, e repetidamente Se define como o único Criador, a exploração imprudente aparece como inadequada, insatisfatória e fora de contexto. Domínio não é licença para destruir.
2. Nova Era e ambientalismo neopagão. O novelista William Golding sugeriu que James Lovelock desse o nome de “Gaia” (deusa grega da Terra) à sua hipótese de realimentação global para a manutenção terrestre. Quando a hipótese de Gaia chamou a atenção dos adeptos da Nova Era, eles a adotaram incondicionalmente. Assim, o movimento da Nova Era associou-se ao ambientalismo. Alguns cristãos, aparentemente incapazes de distinguir entre os dois, rejeitaram a ambos. Ainda que o movimento da Nova Era seja de fundo indubitavelmente satânico, condenar os ecologistas cristãos como hereges é outra coisa totalmente diferente.
3. Entendendo mal a natureza da vida, da morte e da existência futura. A teologia cristã assimilou o dualismo grego, junto com as idéias gnósticas. Os gnósticos acreditavam que um deus menor criou a Terra, a qual, por sua vez, era correspondentemente desvalorizada. Não obstante, um espírito divino que poderia ser reintegrado à divindade capacitou os humanos. Isto degradou o entendimento sobre o processo bem como o resultado da criação, e mesmo o próprio Criador. Isso levou a aberrações teológicas como o conceito de uma alma imortal; a ascensão de um espírito consciente na morte; um inferno eternamente ardente; a má natureza inerente da carne humana; a redução da importância de celebrar, por meio da observância do sábado, o Criador e a criação; e, agora, o antiambientalismo. Os cristãos perderam muito.
 Embora corrompido devido ao pecado, nosso mundo é ainda uma dádiva divina que precisa ser apreciada. A Terra será restaurada como nosso lar eterno (Apocalipse 20 e 21), e não é um lugar menor para ser abandonado. Será um mundo real com pessoas, animais e plantas reais. Além disso, o que fazemos agora com a Terra diz muito sobre nossa compreensão de Deus, da criação e de nossa vida futura. Deus espera que cuidemos de Sua criação.
4. A suspeita da ciência. Muitos cristãos conservadores desconfiam da ciência, para eles a ciência e o ateísmo são indistinguíveis. Em vez disso, precisamos ter certeza de que a Bíblia e a ciência sejam corretamente compreendidas. Os adventistas, sendo cristãos conservadores, estão preocupados com os assuntos referentes à Criação e Evolução. O entusiasmo adventista pelas ciências da saúde também promove vigorosos programas educacionais científicos básicos, com a compreensão de que “a verdadeira Ciência e a Inspiração se acham em perfeita harmonia.”12 A expressão “verdadeira ciência”, sugere a alternativa “falsa ciência”. Assim, o conselho de Paulo sobre separar a verdade do erro é apropriado, quer se refira à ciência ou à religião: “Julgai todas as coisas, retende o que é bom” (I Tessalonicenses 5:21). Sob a guia do Espírito Santo, temos de avaliar e decidir inteligentemente. O ambientalismo não pode ser simplesmente descartado porque algumas teorias científicas não são confiáveis.
5. Ambientalismo e escatologia. Todavia, por mais que desejemos justificar o cuidado para com a criação, Pedro observa que “os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas” (II Pedro 3:10).Por que deveríamos cuidar de uma criação condenada, então? Devemos cuidar, pois pertence a Deus, que disse para dela cuidarmos.
 Concluímos que a Terra renovada e seus habitantes serão reais, físicos e tangíveis. Esse conceito é importante para reparar uma criação arruinada e condenada. As atitudes para com a criação agora preconizam as posições que tomaremos em relação à nova criação. Se tratarmos imprudentemente a criação agora, seria de se esperar que tratemos diferentemente a Terra renovada? Não é de admirar que Apocalipse 11:18 diga que os que destroem a Terra serão destruídos.  
6. A pressão dos líderes cristãos contra a ação ambiental positiva. Muitos crentes conservadores não participam do cuidado para com a criação por causa desse tipo de percepção. As principais igrejas são mais receptivas ao ambientalismo, eles promovem o ambientalismo cristão junto à Associação Nacional de Evangélicos (ANE), pois não vêem o ambientalismo como uma ameaça que outros tanto temem. Mas infelizmente os líderes de igreja bloquearam o esforço, temendo o ambientalismo na igreja como equivalente ao “culto à Terra”. Relatórios posteriores indicam que sob tal pressão a ANE voltou atrás. Um grupo de 86 líderes cristãos está admiravelmente indo avante.14

Praticando o ambientalismo cristão

Interpreto os ensinos bíblicos junto com a ciência, para dizer que quando o ambientalismo cristão é corretamente compreendido, esses bloqueios não ficam em nosso caminho; o ambientalismo não é apenas algo de que podemos fazer parte, mas de que realmente precisamos fazer parte. No princípio, recebemos um mandato – não para explorar, mas para sermos responsáveis e cuidarmos.
          Um ambiente saudável ajuda o evangelho. Ellen White observou que “a obra médico-missionária... é o evangelho na prática”.18 Ela se referiu ao “evangelho da saúde”19 e destacou que um ambiente saudável é promotor da saúde. “A natureza é o médico de Deus”, ela escreveu, referindo-se ao ar puro, luz solar, belas flores e árvores.20 “As coisas da natureza são bênçãos de Deus, providas para comunicar saúde ao corpo, à mente e à alma.”21
Num ensaio, Larry Boughman22 faz referência a Mavis Batey, que escreveu sobre os jardins de Oxford e Cambridge. Ela entendia que esses jardins encarnavam a filosofia da simplicidade e excelência tão necessárias para que estudantes e professores prosperassem em seus esforços intelectuais. Ambientes naturais promovem e aumentam a espiritualidade, a saúde e a aprendizagem.
          Duas estradas se ramificam perante nós: uma fácil e popular, mas que conduz à devastação, enquanto outra, mais desafiadora, conduz à vida. Vimos que a igreja, ao considerar a ação ambiental, tem experimentado dificuldades em decidir que caminho tomar e que papel desempenhar. Proclamar o evangelho da salvação é a primeira tarefa da igreja. Cuidar da criação é a segunda. Ademais, Romanos 8:21 nos diz que a natureza será libertada quando Jesus voltar. As boas-novas também se referem à criação. E no final, do jeito que cuidamos e preservamos a criação agora, assim continuaremos a cuidar do Éden restaurado.
Por conseguinte, como deveríamos viver? Cuidar da criação com seriedade e simplicidade, deveria ser um modo de vida. O custo da negligência e abuso ambiental é alto; a recompensa em cuidar é realmente generosa e permanente.

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